Pequena e isolada, essa é a população de botos de Laguna. Nos últimos 15 anos estamos acompanhando, a partir de fotografias da nadadeira dorsal, o número de botos que utilizam as águas da Lagoa de Santo Antônio. Este número varia de 50 a 60 indivíduos, e aparentemente não vem mudando de forma significativa nos últimos anos, apesar das muitas atividades humanas que contribuíram para a morte de alguns indivíduos. Esse número constante de indivíduos é uma boa notícia, mas não o suficiente para grandes comemorações e despreocupações. Para uma espécie que pode viver mais de 50 anos, que começa a reproduzir só depois dos 10 anos, uma população de 50 indivíduos é uma população muito pequena e que estará sempre em risco de extinção.
Os ecólogos que estudam populações dizem que populações pequenas estão sujeitas a eventos de sorte ou azar. Isso mesmo, podem ter a sorte de persistir no tempo, ou o azar de desaparecer, e isso depende da chamada ‘estocasticidade’. Estocasticidade nada mais é do que variações imprevisíveis. Por exemplo, um recurso fundamental para uma população pode variar no tempo, ocorrendo anos com muita disponibilidade de recurso, e outros com pouca. Da mesma forma, em uma população muito pequena, indivíduos precisam ter sorte para se encontrar e acasalar, do contrário, a população não reproduz. Sendo mais extremo, por um lance de azar, um evento catastrófico pode ocorrer, como um vazamento de óleo, aumentando repentinamente a mortalidade de indivíduos.
Enfim, sendo a população de botos de Laguna muito pequena, ela não pode brincar com a sorte. Por isso a monitoramos incansavelmente. Além de fotoidentificar indivíduos pela nadadeira dorsal, utilizamos métodos específicos que nos permite com precisão não só estimar o número de indivíduos de ano para ano, mas também descobrir qual a probabilidade desses indivíduos sobreviverem e quais as chances de abandonarem a área. Todas essas informações nos permitem prever o que pode ocorrer com a população de botos de Laguna nos próximos 100 anos. Um resultado importante que encontramos é que, sem diminuir drasticamente os casos de emalhamento em redes de pesca, a população de botos de Laguna terá poucas chances de persistir nos próximos anos.
Mas queremos ir além. Dentro do nosso PELD, o plano é continuar monitoramento a população de botos como vínhamos fazendo nos últimos 15 anos. Mas agora com mais detalhes, avaliando os efeitos da disponibilidade de recursos importantes, como a tainha, e impactos diversos como poluição acústica, química e biológicas. Da mesma forma, pretendemos avaliar como a interação com pescadores pode ajudar a população de botos de Laguna a sobreviver.
Essa é uma peça chave de nosso PELD, como é a população de botos para esse sistema. Já estamos fazendo, e vamos continuar…